Coerência – News #17

Nossa casa é, possivelmente, um dos lugares mais íntimos da nossa vida. Isso porque, ao visitar o espaço que chamamos de lar, outras pessoas ganham acesso a quem somos de verdade: elas conseguem entender melhor nosso estilo de vida, nossa personalidade, nossos gostos, nossas manias, um pouco da nossa história e da nossa realidade social e tudo aquilo a que damos ou não valor nessa vida.

Ainda que sem intenção, nossa casa é um reflexo de quem somos. Não porque ela seja exatamente como gostaríamos que fosse, mas porque – para boa parte de nós – muito daquilo que escolhemos ter lá dentro é, de fato, uma escolha: as roupas no guarda-roupa, a comida na despensa, as fotos que estão nos porta-retratos, os objetos que estão expostos, a organização ou desorganização dos ambientes.

E porque estamos falando de pessoas, não existe um jeito certo ou errado de fazer essas escolhas. Existem apenas escolhas que fazem mais ou menos sentido pra gente e para as nossas vidas. Essa harmonia – entre aquilo que somos e necessitamos e aquilo que escolhemos ter à nossa volta – é o que chamamos de coerência.

Se tem um assunto constante quando falamos de casa, é este: como fazer com que o ambiente em que vivemos faça sentido para a vida que levamos? Como fazer com que nossa própria vida esteja alinhada, em seus mais diferentes aspectos? Por que, muitas vezes, nossa casa fala uma linguagem, nossas roupas falam outra e nossos hábitos, gostos e necessidades parecem caminhar em sentidos contrários?

A resposta não é tão simples assim. Somos seres humanos, e, portanto, complexos. Encontrar a clareza necessária para acessar essas respostas requer uma boa dose de autoconhecimento e desconstrução de nós mesmos. De nos despirmos de camadas e mais camadas de referências externas, expectativas, comparações e desejos que não são realmente nossos para entender quem somos de verdade, o que gostamos, o que precisamos e o que queremos.

Às vezes, no turbilhão de informações e referências a que somos expostos no dia a dia, diferenciar aquilo que achamos bonito daquilo que verdadeiramente gostaríamos de ter em casa pode ser um grande desafio. Diferenciar nosso gosto pessoal daquilo que os outros estão fazendo – ainda mais quando os outros são pessoas que a gente admira – é uma tarefa extremamente difícil. Mas treinar o olhar, desconectar da nossa bolha de referências externas e então voltar esse olhar para dentro, num processo intenso de autoquestionamento, é a única forma de construirmos um lar que reflete quem realmente somos.

Para se inspirar

5 casas coerentes com seu estilo de construção e – acima de tudo – seus donos:

Essa casa antiga que foi completamente reformada sem perder a identidade da época e do lugar onde ela se encontra:

Essa outra casa antiga, reformada pelo Studio McGee, que respeitou perfeitamente o estilo da sua construção:

Esse projeto, também do Studio McGee, que conseguiu traduzir perfeitamente o estilo dos donos da casa numa proposta bem diferente do habitual:

A casa da Julia Berolzheimer, que é a prova de que uma casa pode ser linda independente do estilo que tenha – desde que ele tenha a ver com a gente:

A casa da Lu, que é simplesmente a cara dela:

Para seguir:

O insta da Lu, que tem uma casa super coerente com o estilo pessoal dela, e faz isso se refletir em todas as outras áreas da sua vida.

O insta da Madu Zimmermann, consultora de estilo que também ama cuidar da casa e se preocupa em deixar essas duas áreas da vida sempre muito bem alinhadas.

O insta da Julia Berolzheimer, que tem um estilo bem romântico e cheio de cor que casa perfeitamente com suas escolhas de decoração.

O insta da Monika Hibbs, que também é do time que casa seu estilo pessoal com seu estilo de decor e nós adoramos acompanhar por aqui.

Para ler

Dicas de leituras para conhecer melhor seu próprio estilo e traduzir ele em escolhas acertadas:

Uma Pergunta por Dia – Potter Style
O livro é uma espécie de diário para 5 anos, com perguntas aleatórias – umas mais profundas, outras aparentemente superficiais – para serem respondidas diariamente. A grande sacada está na constância das respostas: conforme ele é preenchido, é possível ir percebendo como algumas das nossas respostas às mesmas perguntas mudam completamente com o passar dos anos – e como algumas delas continuam exatamente as mesmas. Uma bela forma de enxergar nossas próprias mudanças e a permanência da nossa essência nesse meio tempo.

Wear It Well – Allison Bornstein
Allison é uma consultora de estilo que ficou famosa na internet com seu método de definir estilos pessoais em apenas 3 palavras. Em seu livro, ela fala não só sobre o método e sobre como descobrir o próprio estilo, mas principalmente sobre como essas três palavras precisam ser coerentes com a sua vida e as suas escolhas. Além disso, ela defende algo que serve tanto para o guarda-roupa quanto para a casa: para ficar feliz com o resultado, o primeiro passo é eliminar o que incomoda e aprender a utilizar bem o que ficou, antes de pensar em comprar coisas novas.

The Art of Home – Shea McGee
O livro já foi indicado por aqui, mas vale o repeteco: além de contar com imagens maravilhosas e ficar lindo na decoração, ele passa cômodo por cômodo explicando sobre as melhores decisões para cada ambiente, de forma que, ao encarar o resultado final, a casa esteja não só bela, mas coerente – e os moradores, felizes.

Para assistir

Filmes de diretores sempre coerentes com seu próprio estilo:

O Grande Hotel Budapeste – Wes Anderson
Wes tem um estilo estético bastante próprio em seus filmes, sempre harmonizando o uso de cores e simetria de forma a criar uma experiência visual única. O Grande Hotel Budapeste talvez seja um dos melhores exemplos disso. O filme, que acompanha as memórias de um ex-atendente de hotel num roteiro cheio de suspense, humor e boa atuação, é um deleite aos olhos sem abrir mão de uma boa história.

Garota Exemplar – David Fincher
Fincher é outro diretor com um estilo bastante peculiar, não só no uso de cores e iluminação como também no roteiro, explorando temas que acabam por se encontrar na maior parte de seus trabalhos e sempre deixando espaço para pegar o espectador de surpresa. Seu repertório de bons filmes é extenso, mas Garota Exemplar é uma das obras que consegue captar muito bem esse estilo. Baseada no livro de Gillian Flynn, ela acompanha o desaparecimento de uma mulher que parece ter a vida perfeita, até que todas as suspeitas se voltam contra seu marido.

A Origem – Christopher Nolan
Nolan é um dos diretores sempre mencionados quando se fala de filmes de auteur, termo utilizado para diretores com uma assinatura tão única que lembram autores literários, que controlam a narrativa. Seu estilo visual normalmente envolve cenários urbanos e arquitetônicos únicos e cores dessaturadas, com temas que remetem ao neo-noir. A Origem, sobre um grupo de pessoas que consegue acessar sonhos e adentrar o inconsciente para roubar e plantar informações, é um daqueles que precisa ser assistido ao menos uma vez na vida.

Priscilla – Sofia Coppola
Sofia controla a narrativa de seus filmes fazendo uso de diversos aspectos dessa composição: uma locação que funciona como uma personagem à parte, um figurino inesquecível, uma trilha sonora bem selecionada e uma preferência por deixar que as imagens falem por si, passando a mensagem sem que muitas vezes os atores em cena precisem falar. Priscilla é sua obra mais recente e reúne todos esses elementos num trabalho só, contando a história de Priscilla Presley e seu conto de fadas nada perfeito com o rei do rock.

Para doar

Essa edição da news começou a ser escrita antes das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. Como não conseguiríamos mudar o tema a tempo, mudamos esta sessão. Por isso hoje, em vez de links para comprar produtos vamos deixar links para você realizar doações, se puder e sentir vontade. São pessoas e instituições que a nossa equipe optou por apoiar durante as últimas semanas e que continuam – como todos os gaúchos – necessitando de contribuições:

O Instituto Survivor, que trabalha combatendo a violência doméstica, está criando abrigos exclusivos para mulheres e crianças no RS.

Os Médicos Sem Fronteiras, que fazem um trabalho lindo de assistência médica pelo Brasil e o mundo, agora estão agindo também no estado gaúcho.

O Canal da Cloud, que cria conteúdo sobre tecnologia, está com uma vakinha aberta para doações. No próprio Instagram é possível acompanhar a utilização das arrecadações e as idas a mercados e abrigos que os voluntários estão fazendo.

A Lara Nesteruk também está realizando uma super ação para arrecadar fundos para as vítimas das enchentes e levando auxílio ao Rio Grande do Sul.

Para testar na cozinha

Receitas que harmonizam para um menu coerente, da entrada à sobremesa:

Uma entradinha super fácil de ricota com azeitonas para mergulhar torradas e ser feliz.

Essa salada de rúcula com parmesão, para começar com leveza.

Essa massa ao limão de dar água na boca como prato principal.

E, de sobremesa, esse brownie de chocolate que você tem todo o direito de servir com um belo sorvete de creme.

Finalizando

Uma casa coerente com o nosso estilo passa não só por boas escolhas estéticas – que precisam, de fato, estar alinhadas conosco – mas por boas escolhas funcionais também. A casa precisa funcionar para a vida que levamos para que possa fazer sentido. Por isso, antes de investir, há perguntas que podem e devem ser feitas para garantir um resultado que tenha a ver com a gente: quais são as partes da casa que mais utilizamos no dia a dia? Que detalhes da nossa rotina são inegociáveis? O que não pode faltar para que o nosso dia corra bem? O que pode ficar de fora?

Responder a essas perguntas é fundamental para conseguir eliminar excessos e fazer boas escolhas dentro da distribuição do orçamento, porque a casa precisa sempre ser pensada na sua totalidade para que possa ter coerência. Os cômodos precisam conversar entre si, e mesmo o quarto das crianças precisa levar em consideração a decoração do restante da casa. Para além disso, todas as decisões de design devem também refletir nossas prioridades.

Talvez uma boa mesa de jantar seja mais importante que a bancada da cozinha, porque a prioridade são refeições em família, feitas com calma. Talvez uma luminária legal para ficar batendo papo na sala ao fim do dia seja melhor que uma super televisão. Talvez o papel de parede seja item obrigatório no quarto das crianças, e uma estante cheia de livros faça você mais feliz que paredes limpas. E talvez nada disso faça sentido para aquela pessoa que você segue e admira, mas que vive uma vida completamente diferente da sua.

Mudar um vaso de lugar, trocar a capa das almofadas ou comprar um jogo de copos mais interessante são decisões importantes, mas facilmente executáveis assim que você mudar de ideia ou simplesmente evoluir seu estilo – porque, sim, seu estilo estará sempre, sempre evoluindo. Porém grandes decisões de layout e investimento merecem ser pensadas com carinho, tempo e transparência para que possam trazer os resultados que você busca. Aquela história de sentir a casa antes de fechar a compra é a mais pura verdade.

Quando for colocar energia nisso, olhe para dentro e seja honesta com você mesma sobre suas reais necessidades, vontades e prioridades: esse é o único caminho possível para uma casa coerente e com significado. É claro que essa casa pode ser cheia de inspirações que vêm de outras pessoas e de outros lugares, mas se ela fizer sentido para você, estará cumprindo o seu papel. Uma casa coerente faz você feliz, independente de como essa felicidade se traduz para cada um de nós.

A gente se vê numa próxima!

Com carinho,

Equipe LP

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