Qualquer bom livro sobre design de interiores que você pegar na mão vai te dizer que a casa deve ser um reflexo das pessoas que moram nela. É preciso que haja personalidade, significado e um tanto de memórias para que esse lugar seja um lar, muito mais que apenas um ambiente bonito.
O problema é que essa afirmação – de que a casa deve ter personalidade – mais atrapalha do que ajuda a maior parte das pessoas. Porque a maior parte das pessoas tem muita dificuldade em definir o próprio estilo. Esse dilema é encontrado tanto na decoração da casa quanto dentro do guarda-roupa, e o motivo é incrivelmente simples: é difícil separar aquilo que a gente gosta daquilo que é o nosso estilo.
É possível gostar de muita coisa, dos mais variados estilos. Isso não significa que nós temos vários estilos diferentes, só significa que conseguimos apreciar a beleza de diferentes coisas – o que é algo bom, mas acaba causando muita confusão. Na hora de comprar, seja uma peça de roupa ou algo para a casa, nós acabamos usando essa parte do cérebro que divide as coisas entre coisas que gostamos e coisas que não gostamos, e é isso que faz com que nosso guarda-roupa vire uma uma mistura de várias coisas que não combinam entre si e que não conseguimos usar, e que a casa vire um showroom, com diferentes acabamentos e estilos, repleta de coisas que nem sempre fazem sentido.
Para separar aquilo que a gente gosta daquilo que faz o nosso estilo – aquilo que faz sentido na nossa realidade, que vamos usar muito e que combina com a gente e com a nossa casa – não existe atalho; é preciso pegar o caminho mais longo. É preciso criar um repertório de referências, ganhar experiência e se conhecer bem, e tudo isso só é possível com tempo, dedicação e disposição para errar.
É preciso aproveitar viagens ou qualquer saída fora da rotina – uma nova cidade, um novo restaurante, uma casa que você nunca visitou – para criar novas referências prestando atenção aos detalhes: como é o chão? Qual o material dos móveis? Como é a iluminação? A cor das paredes? A decoração? Eu gosto? Não gosto? Por quê? Esse exercício também pode ser feito na internet, ou nos livros, salvando e guardando tudo aquilo que mexe com você.
De tempos em tempos, você vai lá e revê a mesma pastinha, dessa vez para notar o que mudou. Muitas das suas imagens de referência não vão mais chamar tanta atenção ou fazer tanto sentido, o que é um sinal de que o seu olhar mudou. O que você continua gostando te ajuda a entender os caminhos que têm mais a ver com você. Treinar o olhar é fundamental para poder sentir segurança nas próprias escolhas.
Já para ganhar experiência, não tem jeito: só errando e acertando. Você vai fazer escolhas boas e escolhas ruins, e são as escolhas ruins que levarão a melhores escolhas no futuro. É assim com tudo na vida, e por isso o tempo é uma variável extremamente necessária no processo de definição do próprio estilo (e da vida! Mas não vamos entrar num papo tão filosófico por hoje). O conselho aqui é perder o medo de errar e encarar tudo como aprendizado, como a possibilidade de fazer melhor da próxima vez. Porque sempre vai ter uma próxima vez.
Quando falamos de autoconhecimento, os caminhos são vários. De terapia a retiro espiritual, conversas com pessoas próximas, leitura, viagens, meditação – vale tudo que possa ajudar você no processo de se conhecer melhor, para que você consiga compreender suas motivações, seus gostos e aquilo com o que você realmente se identifica.
É um processo. E talvez essa seja a parte que mais frustra as pessoas, mas não tem jeito. Não é da noite para o dia, não é algo imutável e, acima de tudo, ainda é extremamente pessoal. Só você pode passar por essa construção, e é por meio dela que você começa a ter maior consciência de quem você é e a se reconhecer nas próprias escolhas, sejam elas de peças de roupa, de itens para casa ou das coisas mais importantes da vida.
Para se inspirar
5 antes e depois possíveis e cheios de personalidade:
Essa repaginada no quarto dos pais não teve grandes intervenções, mas foi repleta de escolhas acertadas para deixar o ambiente mais charmoso sem perder a cara dos donos:
Esse porão convertido em sala de tv só precisava de um pouco de cor para mudar completamente de cara e ficar muito mais aconchegante:
Essa casa coberta de paineis de madeira que foram totalmente mantidos na reforma é a prova de que nem sempre as maiores intervenções são as que causam os melhores resultados:
Essa cozinha ganhou muito mais beleza e personalidade com ótimas escolhas – e tá aqui para te mostrar que granito preto pode ser extremamente charmoso:
Esse banheiro super antigo que foi totalmente repaginado apenas com papel de parede e alguns puxadores:
Para seguir:
O insta da Madu Zimmermann. A Madu é uma consultora de estilo que ama design de interiores, e por isso as escolhas dela, para a casa e para o guarda-roupa, são sempre super coerentes. Vale seguir para apurar o olhar e aprender a fazer boas escolhas, diminuir as compras por impulso e usar aquilo que realmente faz sentido para você.
O blog da Emily Henderson. A Emily é designer de interiores e no blog ela posta inspirações, makeovers e documenta as transformações da própria casa. Essas transformações envolvem tempo, muitas dúvidas e, ocasionalmente, voltar atrás em algumas decisões – o que prova que o caminho não é linear até mesmo para quem trabalha com isso.
O tiktok do casal Chris Loves Julia, com um conteúdo bem legal de design de interiores. Num mundo em que todas as casas parecem meio iguais, o trabalho deles é um respiro: cheio de cor, charme e personalidade.
Para ler
Homebody
O livro da designer Joanna Gaines (da série Fixer Upper) é uma celebração a casas que refletem as histórias de quem mora nelas. Em formato de guia, ele ajuda a esclarecer prioridades e necessidades na hora de desenhar o próprio espaço e a valorizar aquilo que realmente importa: uma casa que é sua.
O livro da produtora e roteirista Shonda Rhimes é um grande experimento de autoconhecimento. Após ouvir da própria irmã que ela dizia ‘não’ para tudo, Shonda decidiu passar um ano só dizendo ‘sim’. Foi um ano de muitas novas experiências fora da zona de conforto, mas que acabaram ajudando Shonda a se conhecer melhor.
Indomável, da Glennon Doyle, é uma joia em forma de livro – e um convite a revisitar aquela pessoa que a gente era antes de o mundo nos dizer quem deveríamos ser. Contado em pequenos capítulos com histórias pessoais da autora, ele nos faz refletir sobre como, por baixo de todas as construções sociais que vivemos, nós ainda cultivamos uma personalidade única e muito especial.
Para assistir
Comer, Rezar, Amar
Comer, Rezar, Amar é o relato autobiográfico da Liz Gilbert, que ao começar a não mais se reconhecer na própria vida, decide embarcar numa jornada de autoconhecimento sem um destino muito definido – só com o propósito de se reencontrar.
A Vida Secreta de Walter Mitty
O filme é daqueles super gostosinhos e inspiradores para uma tarde de domigo: Walter Mitty é um cara que vive sonhando acordado com uma vida que não é a dele, até que ele precisa encarar uma grande aventura na vida real. Para mostrar que só vivendo e ganhando experiências é possível estar mais confiante nas próprias escolhas.
Garota Mimada
Esse clássico dos anos 2000 conta a história de Poppy, uma adolescente americana rebelde que é enviada pelo pai a um internato no interior da Inglaterra. As diferenças culturais e o novo ambiente fazem com que ela reveja seus próprios valores e comece, pouco a pouco, a redescobrir a si mesma.
Para comprar
Novidades que acabaram de chegar na LP para deixar a casa cheia de personalidade:
Nosso novo tapete vintage, nas versões Deserto e Oasis.
Uma capa de edredom reversível, edição limitada, para deixar o quarto dos pequenos ainda mais charmoso.
Os quadros Galeria, para rechear a casa de significado e muitas boas memórias.
Para testar na cozinha
Receitas super fáceis para receber com estilo, mesmo quando o tempo está curto:
Essa entradinha maravilhosa da Half Baked Harvest para receber os amigos com alguns drinks.
Um mac&cheese da Paola Carosella de prato principal, que é fácil, dá pra bastante gente e agrada todo mundo.
Esse brownie de chocolate da Pri Gemente, que cumpre o papel de sobremesa perfeita.
Finalizando
Para que a sua casa possa ser um reflexo de quem você é, é preciso que as suas escolhas reflitam a sua personalidade. Muito mais do que gostar de uma peça, ou comprar o que os outros estão comprando, escolher intencionalmente tem a ver com um exercício que, na maior parte das vezes, não é imediato.
Muitas vezes você vai olhar algo de que gosta e não vai levar. Vai controlar o impulso de uma compra que te deixaria feliz para poder refletir sobre a necessidade real daquela peça. Sobre como ela se encaixa no seu contexto, na sua vida. Talvez você perceba, com um pouco de distância, que aquilo não fazia mesmo sentido para você. Talvez você volte para buscar uma peça que não esteja mais disponível e sinta frustração. É tudo parte da aprendizagem. De uma forma ou de outra, você aprendeu um pouco mais sobre si, que é – ou deveria ser – o verdadeiro objetivo.
O mesmo é válido para outros aspectos da vida. É preciso valorizar o processo tanto quanto o resultado final. Curtir os momentos em que as coisas parecem meio confusas e fora do lugar, inacabadas, porque é neles que o crescimento acontece. Não deixar que a ansiedade de ver tudo pronto nos roube a felicidade dessa construção. Porque a vida é isso: esse meio tempo entre os grandes acontecimentos, ao qual a gente por vezes não dá o devido valor, mas que, somados, são os maiores responsáveis pela nossa história.
Encontrar o próprio estilo tem muito a ver com essa mudança de percepção. Com encarar a vida com mais generosidade, abraçar a beleza do processo, em todo o seu caos, e atravessar os períodos de incerteza com presença. Viver as dúvidas, celebrar os aprendizados. Um dia, talvez sem nem perceber, a gente se veja do outro lado. E que delícia é poder olhar para uma versão antiga de nós e ver que ela nos trouxe até aqui sem nunca perder de vista aquilo que realmente importava.
A gente se vê numa próxima!
Com carinho,
Equipe LP